INTRODUÇÃO AO EVANGELHO SEGUNDO JOÃO

  • Textos chaves
    “ Ora, a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste, Jesus Cristo” João 17:3
    “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo tenhais vida em seu nome. “ João 20:30,31

    Quem?
    Atribuído ao próprio João...
    Felizmente, temos considerável informação acerca do discípulo chamado João, o autor deste evangelho. seria o mais novo dos 12 discípulos, tinha provavelmente cerca de vinte e quatro anos à altura do seu chamado por Jesus. Consta que seria solteiro e vivia com os seus pais em Betsaida. Marcos diz-nos que ele era irmão de Tiago, filho de Zebedeu (Marcos 1.19). Diz também que Tiago e João trabalhavam com "os empregados" de seu pai (Marcos 1:20).Alguns eruditos especulam que a mãe de João era Salomé, que assistiu a crucificação de Jesus (Marcos 15:40). Se Salomé era irmã da mãe de Jesus, como sugere o Evangelho de João (João 19:25), João pode ter sido primo de Jesus.

    Ele foi um dos primeiros a seguir Jesus. Jesus encontrou a João e a seu irmão Tiago consertando as redes junto ao mar da Galiléia. Ordenou-lhes que se fizessem ao lago e lançassem as redes. Arrastaram uma enorme quantidade de peixes - milagre que os convenceu do poder de Jesus. "E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram" (Lucas 5.11) Simão Pedro foi com eles. Era tido como um dos mais íntimos discípulos de Jesus o “discípulo bem-amado” (João 13:23; 19:26; 20:21; 21:7, 20; 21:24).

    O seu nome quer dizer “a graça do Senhor”. João parece ter sido um jovem impulsivo. Logo depois que ele e Tiago entraram para o círculo íntimo dos discípulos de Jesus, o Mestre os apelidou de "Boanerges": "filhos do trovão" (Marcos 3:17). Os discípulos pareciam relegar João a um lugar secundário em seu grupo. Todos os Evangelhos mencionavam a João depois de seu irmão Tiago; na maioria das vezes, parece, Tiago era o porta-voz dos dois irmãos. Paulo menciona a João entre os apóstolos em Jerusalém, mas o faz colocando o seu nome no fim da lista (Gálatas 2:9).

    Muitas vezes João deixou transparecer suas emoções nas conversas com Jesus. Em certa ocasião ele ficou transtornado porque alguém mais estava servindo em nome de Jesus. "E nós lho proibimos", disse ele a Jesus, "porque não seguia conosco" (Marcos 9:38). Jesus replicou: "Não lho proibais... pois quem não é contra a nós, é por nós" (Marcos 9:39,40). Noutra ocasião, ambiciosos, Tiago e João sugeriram que lhes fosse permitido assentar-se à esquerda e à direita de Jesus na sua glória. Esta idéia os indispôs com os outros discípulos (Marcos 10:35-41).

    Mas a ousadia de João foi-lhe vantajosa na hora da morte e da ressurreição de Jesus. Em João 18.15 diz que ele era "conhecido do sumo sacerdote". Isto o tornaria facilmente vulnerável à prisão quando os guardas do sumo sacerdote prenderam Jesus. Não obstante, João foi o único apóstolo que se atreveu a permanecer ao pé da cruz, e Jesus entregou-lhe sua mãe aos seus cuidados (João 19:26-27). Ao ouvirem os discípulos que o corpo de Jesus já não estava no túmulo, João correu na frente dos outros e chegou primeiro ao sepulcro. Contudo, ele deixou que Pedro entrasse antes dele na câmara de sepultamento (João 20:1-4,8).

    João é também o autor de várias “epístolas” (cartas). 1ª João , 2ª João e 3ª João . Ele também escreveu o livro conhecido como Apocalipse ou Revelações. Escreveu mais textos do Novo Testamento do que qualquer um dos demais apóstolos. Não temos motivos para duvidar de que esses livros são da sua autoria.

    Mais tarde João esteve fortemente ligado a Pedro nas atividades iniciais do movimento cristão, tornando-se um dos principais sustentáculos da igreja de Jerusalém. Foi o principal apoio de Pedro, no Dia de Pentecostes. Depois da morte e martírio de Tiago, João teria se dirigido à Ásia Menor, onde liderou a importante e influente comunidade cristã de Éfeso, fundada por Paulo anos antes. Diz a tradição que ele cuidou da mãe de Jesus enquanto pastoreava a congregação em Éfeso, e que ela morreu ali. João esteve varias vezes na prisão, foi torturado e exilado para a Ilha de Patmos, por um período de cerca de quatro anos, onde teria escrito o Apocalipse até que o cruel imperador Domiciano foi assassinado e o manso imperador Nerva chegasse ao poder em Roma.

    De todos os doze apóstolos, João Zebedeu finalmente tornou-se o mais destacado teólogo. Ele viveu mais do que o resto dos discípulos, morreu de morte natural, em Roma, no ano 103 d.C., quando tinha 94 anos.. e seu corpo foi devolvido a Éfeso para sepultamento

    Fez o que?
    Um evangelho...
    A palavra "evangelho" quer dizer “boas novas”. Os evangelhos são as narrativas guardadas na memória popular sobre o que Deus fez por intermédio de Jesus Cristo. Eles são narrativas cuidadosamente escritas sobre o nascimento, a vida, o ministério, a morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré. Algumas pessoas se referiam a eles como as “Escrituras Gregas”. O Evangelho de João desenvolve a idéia de “crença” em noventa e nove citações, o que também nos fornece um material para reflexão. Estas histórias possuem um poder de cura admirável e dão esperança e força em tempos difíceis.

    A confiabilidade do evangelho de João é atestada por manuscritos e artigos (desde o final do primeiro século), muitas peças em papiro daquele período foram descobertas, o que confere validade à Bíblia (e especialmente o Evangelho de João) mais do que qualquer outro documento antigo. Em 1920, um fragmento de papiro do evangelho de João também foi encontrado, medindo oito centímetros e nove milímetros por seis centímetros e quatro milímetros, contendo João 18.31-33 de um lado e 18.37-39 de outro. Os estudiosos atribuíram-no à primeira metade do segundo século. É o mais antigo manuscrito da Bíblia encontrado - uma evidência de que o evangelho de João existia e estava em circulação no Egito, nos anos que se seguiram imediatamente à morte de João. Este importante fragmento está sob uma redoma de vidro na Coleção Chester Beatty, da Biblioteca Rylands, em Manchester, Inglaterra, e é considerado um dos mais importantes manuscritos da história (embora já não seja o texto bíblico mais antigo). Este documento comprova a veracidade do evangelho de João bem como confirma sua autoria. Além desse célebre fragmento do manuscrito de John Rylands, existe outra evidência da antiguidade do evangelho de João: A veracidade do evangelho de João é comprovada também pelo Egerton Papiro 2, com data anterior ao ano 150.

    Inácio, em suas Sete Cartas, escritas por volta de 110 d.C., faz citações dos quatro evangelhos. Papias, que viveu em 70-155 d.C., foi discípulo de João e citou seus escritos, juntamente com os outros evangelhos, em seu livro "Uma Explanação dos Pronunciamentos do Senhor". Citações semelhantes podem ser encontradas nos escritos de Irineu (130-200 d.C.), um aluno de Policarpo (tendo sido ele mesmo, por sua vez, um aluno de João), bem como nos de Justino Mártir e outros pais da igreja. Apesar de apenas parte de seus escritos ter sido preservada, aqueles que restaram confirmam a existência e imediata aceitação, na época, do evangelho de João (assim como de outros livros do Novo Testamento).

    A quem ?
    Pertence claramente ao mundo grego...
    Apesar de conter alguns poucos vestígios do mundo judaico; aceitamos portanto que foi dedicada às Igrejas da Ásia menor...
    João usa mais de oitenta vezes a expressão "os judeus". Isto prova que nós estamos lendo um livro "não judaico", escrito para pessoas de outra nacionalidade, à Igreja cristã em éfeso e na Ásia menor, às 7 igrejas (da rota de correios da época), os mesmos leitores originais de Apocalipse. A comunidade onde João dirigia e para quem escreve o Evangelho, é uma comunidade que está levando a sério a vida cristã e a proposta de Jesus. É uma comunidade que está sendo perseguida (época do Apocalipse). Existe o conflito com os judeus (nesta época o cristianismo já foi expulso das sinagogas). E a confusão de grupos gnósticos.

    Quando e Onde?
    Provávelmente é cerca de 85 DC, na cidade de Éfeso...
    João escreveu este Evangelho depois dos outros evangelistas; é um dos últimos livros a ser escrito do Novo Testamento, escrito após a guerra judaica de 70-71 que respondeu à necessidade de fixar a transmissão oral da mensagem de Jesus após da catástrofe final do povo judeu da época, e que surgiu na cidade de Éfeso. O período de escrita do livro foi de 70 DC (queda de Jerusalém) até 95 DC. A data mais provável é cerca de 85 DC, após os outros evangelhos terem sido escritos.

    Como?
    Discursos hermenêuticos de transição Judaica/grega, e um tratado anti-gnóstico...
    Transição de cosmovisão entre o mundo judáico-aramáico e o grego-helenístico...
    João sugeriu uma mudança hermenêutica profunda, porque a transição entre o mundo judáico-aramáico e o grego-helenístico não foi uma simples passagem lingüística, foi uma ruptura de cosmovisão e visão do Homem. Enquanto a cultura grega era impregnada pela imagem e pela estética da visão, pela harmonia do cosmos e por um mundo ideal, espiritual e superior, - compare a figura do Eros como a expressão do desejo inatingível do divino -, entre os Judeus as imagens de Deus eram proibidas, e substituídas pela função salvadora da palavra; o cosmos tornou-se criação (“céu e terra”). Em vez da suposta harmonia divina dos gregos vive-se e questionava-se a história do povo como uma série de crises de justiça/injustiça.
    Toda a doutrina de Jesus é exposta em longos e misteriosos discursos. Isto ocorre porque João utiliza uma linguagem própria, a um determinado povo e expressada em categorias simbólicas. Os Gregos eram acostumados à filosofia e tipos de teatros públicos que tinham fim educacional como de diversão.

    Também se trata de um tratado anti-gnóstico É uma refutação de uma ramificação do gnosticismo da época chamada de docetismo = criam que Jesus não era totalmente humano, pois se fosse teria se contaminado pela matéria que é má. Defendiam uma natureza fantasmagórica de Jesus. Esta seita surgiu devido ao sincretismo entre cristãos e filósofos da época, na região da Ásia menor (alguns estudiosos crêem que este grupo derivou de seguidores de João batista, que diziam que os discípulos de João não conheciam o batismo de Jesus e a doutrina do Espírito Santo).

    João pode ter expressões dos sumos sacerdotes, sacerdotes e fariseus, possivelmente por sua influencia ou conhecimento de integrantes deste grupo, Em João 18.15 diz que ele era "conhecido do sumo sacerdote".

    Algumas Diferenças:
    ·Neste Evangelho, Jesus realiza o seu ministério quase sempre em Jerusalém enquanto nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas que tem bastante elementos em comum) ele realiza seu ministério na Galiléia;·Aqui encontramos somente sete sinais que Jesus realiza em sua vida, enquanto nos Evangelhos sinóticos são encontrados muitos milagres;·O Jesus de João atua publicamente por dois ou três anos, enquanto nos Evangelhos sinóticos toda a aparição de Jesus se reduz a somente um ano;

    Porque?
    O propósito visa despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo como o Messias Salvador...
    O propósito do livro encontra-se no verso (20:31) para que os leitores possam acreditar que Jesus foi enviado por Deus. Uma das características de João é revelar realmente quem é Jesus Cristo. A principal característica do evangelho de João é despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus no qual “A palavra era Logos” (João 1:2). Ele vem nos mostrar que Jesus é o próprio Deus vivo e a sua função é revelar o Pai aos seres humanos até o ponto de dar o seu Filho por amor à humanidade.

    O Evangelho de João pode ser visto como uma espécie de meditação, que visa despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo. Para João, Jesus é o enviado de Deus, aquele que revela o Pai aos homens. A revelação de Deus em Jesus coloca o mundo em julgamento. Diante da luz da revelação, surge o esclarecimento da vida humana: os que vivem conforme a vontade de Deus, aproximam-se de Jesus e o aceitam.

    Com que resultado?
    Desde sua criação até os dias de hoje, há sido um livro de impacto transformador...
    Uma evidência do resultado positivo deste importante evangelho é o fato de ele ter sido aceito imediatamente por todos os líderes da igreja primitiva.

    A comunidade de João nasce de modo simples, e à medida que vai crescendo adquire um novo jeito de agir e de viver, sendo realmente Igreja Cristã. Transformando-se assim num dos maiores celeiros de lideres cristãos da igreja primitiva.

    Hoje em dia, vemos como resultado a grande aceitação e transformação que este livro tem causado na comunidade atual. A Bíblia é, com certeza, o livro mais lido e amado no mundo, e dos livros do Novo Testamento, o preferido é o evangelho de João.

    Resumo do livro:
    Introdução ao livro - 1: 1-18
    Já no início do seu Evangelho, João vai mais além do que todos os demais evangelistas. No capítulo, ele usa o termo .Verbo. para definir a divindade de Jesus, ressaltando a pessoa de Cristo, ainda na eternidade, com Deus. Desse modo, ao invés de tratar do nascimento de Jesus, ele aborda a sua encarnação como Deus homem. Assim, o Apóstolo, faz com que o conteúdo do seu Evangelho seja universal. Depois, a narrativa do Apóstolo, pode ser dividida em quatro períodos.

    O Período de Reflexão - 1: 19 a 6: 71
    Apresenta Jesus, o Verbo divino, e narra seus primeiros contatos com os discípulos. Utiliza a pregação de João e textos das Escrituras proféticas do AT para explicar sua missão. Surgem, porém, as primeiras controvérsias com os judeus, principalmente por causa da cura de um paralítico, num sábado. Os milagres do capítulo 6 levam os discípulos a uma entrega à fé.

    O Período de Conflito - caps. 7 a 11
    No início de seu ministério houve séria descrença na missão de Jesus por parte dos judeus, 8: 22, 10: 19-20 e até pelos seus próprios irmãos, 7: 5. Por isso, nessa fase Jesus ensinou intensamente sobre si mesmo, 7: 16-18, procurando revelar sua divindade. Os discípulos crescem na fé, principalmente quando vêem o milagre da cura de um cego de nascença, cap. 9, e a ressurreição de Lázaro, cap. 11. O panorama religioso é marcado, por um lado, pelo contraste entre as multidões desnorteadas e a venenosa oposição da hierarquia judaica e, por outro, a pregação de Jesus.

    O Período de Preparação - caps. 12 a 17
    Depois, Jesus procurou estar longe das multidões, 12: 23 e 36. Nessa fase de recolhimento, dedicou-se mais aos discípulos, cap. 13. Precisava prepará-los para o choque da cruz. No final desse período, Ele volta para Jerusalém, em busca do cumprimento de sua missão, 13: 1. Ocorre sua entrada triunfal, sendo saudado por uma multidão de peregrinos, 12: 20, 21.

    O Período de Consumação - 18:1 a 20:31
    Os momentos finais de Jesus foram marcados por violentas contradições: alguns manifestam total oposição e rejeição; e outros profunda aproximação e aceitação. Nos degraus do caminho da cruz estão o Getsêmani, a traição de Judas, a covardia de Pilatos, a fraqueza de Pedro, a crucificação. Mas também se vê a constância do discípulo amado e das mulheres, a ação generosa de José de Arimatéia e de Nicodemos, 19: 39. A ressurreição foi a justificação final da fé.

    Para Refletir
    1. Estou sendo realmente uma luz para a minha família, para os meus amigos, para a minha comunidade? Ou sou somente um facho apagado que nada ajuda à pessoa do próximo?

    2. Estou procurando viver o amor para com o outro, ou estou interessado no que o outro tem a me dar em troca?

    3. Ser cristão é assumir com vontade e dedicação, a experiência que os apóstolos de Jesus fizeram. A minha comunidade favorece para que isto aconteça ou ela é uma pedra de tropeço?

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